Jurista defende pena de morte para bandidos de toga
Um dos mais prestigiados juristas
da área trabalhista, Calheiros Bomfim, enviou um artigo à Ordem dos
Advogados do Brasil (seção Rio de Janeiro) dizendo que, se fosse
necessário abrir uma exceção para validar a pena de morte, ela deveria
existir para aniquilar juízes corruptos.
Famoso por ter escrito o
Dicionário de Decisões Trabalhistas, Bomfim comenta que os juízes
brasileiros ganham mais que os de outros países, desfrutam de diversas
benesses e, devido à formação necessária e natureza de sua atividade,
não podem se comparar a bandidos comuns quando cometem crimes.
No texto, Bomfim sai em defesa da corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon.
- Se, portanto, houve injustiça na afirmação da ministra Eliana Calmon, certamente não foi com os bandidos de toga.
ABAIXO O TEXTO NA ÍNTEGRA.
Bandidos de toga e outros bandidos
Benedito Calheiros Bomfim
O fato de que no Brasil existem
juízes corruptos (como, de resto, em todos países) é sabido, e os que
não sabiam, suspeitavam. Mas a circunstância de ter sido confirmado e
reafirmado publicamente pela ministra Eliana Calmon, Corregedora do
Conselho Nacional de Justiça, está a merecer as considerações que ora
nos permitimos fazer.
Ressalve-se desde logo que os
magistrados brasileiros, em sua imensa maioria, possuem excelente
formação moral e ética, são agentes, honrados, honestos, dignos e
dotados de espírito público. Pela alta relevância de sua função social e
institucional, incumbidos da missão de julgar aqueles que a eles
submetem suas pendências de toda a natureza, inclusive familiares,
alimentícias, patrimoniais e até envolvendo a liberdade individual,
nosso ordenamento jurídico exige que tenham reputação ilibada, pública e
privada, e notável saber jurídico.
Entre as prerrogativas, direitos e
vantagens que lhes são asseguradas encontram-se vitaliciedade, elevado
padrão salarial, inamovibilidade, aposentadoria com proventos integrais,
mesmo quando, sob suspeita de improbidade, são afastados do cargo,
prisão especial.
Como, pois, com a situação
privilegiada que desfrutam e a responsabilidade social e funcional de
que estão investidos, compreender e admitir que, traindo seu juramento,
ao em vez de servirem de exemplo, vendam sentença, deixem-se corromper,
pratiquem os mais variadas fraudes e atos de improbidade?
Não há como compará-los a
bandidos, comuns (estes, não recebem dinheiro público), dos quais, por
sua marginalização, exclusão da sociedade e natureza, só se podem
esperar ações delituosas, práticas criminosas. De causar admiração seria
se agissem de forma diferente. Os bandidos e mafiosos de colarinho
branco, conquanto não aufiram - mas se apropriam - de dinheiro do
Tesouro, cometem delitos da maior gravidade contra a coletividade e a
economia do país, merecem ser punidos com o máximo rigor da lei, embora,
lamentavelmente, se beneficiem sempre da impunidade.
O verdadeiro bandido, este sim, é o
juiz corrupto que, comprometendo a imagem de sua corporação, com a alta
responsabilidade que o Estado e a sociedade lhe conferem e com as
condições privilegiadas em que vive, auferindo vencimentos superiores
aos da quase totalidade dos seus colegas de categoria dos outros países,
trai sua missão social de fazer justiça e seu juramento de respeitar a
Constituição e as leis do país, comete fraudes, desvia verba pública,
comercializa sentença.
O autor das presentes observações é
visceralmente contra a pena de morte. Entende que o Estado não deve
punir o criminoso com outro crime, uma morte com outra morte. A
penalidade que aplica tem fim pedagógico, visa à ressocialização, à
reeducação, á reinserção do delinquente na sociedade. Mas se, por
hipótese, fosse obrigado a admitir exceções à tese contrária à pena
capital (proibida em nossa Constituição), seria para aplicar a pena de
morte ao juiz corrupto, venal e ao torturador.
Em alguns países o juiz é
submetido ao voto popular ou é eleito pelo Parlamento, em outros o
mandato tem duração temporária e em muitos são mal remunerados, se
comparados com o padrão brasileiro.
Não há, pois, como tornar análogo o
crime do juiz ao do bandido comum ou o de colarinho branco, nem tornar
equivalente a pena aplicável a todos. Se, portanto, houve injustiça na
afirmação da ministra Eliana Calmon, certamente não foi com os bandidos
de toga.
Benedito Calheiros Bomfim é membro da Academia Nacional de Direito do Trabalho.
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